Aquele Azul que eu conheci
- Isabella Ferrarese
- 23 de set. de 2024
- 2 min de leitura

“Words which he did not understand he said over and over to himself till he had learnt them by heart: and through them he had glimpses of the real world.” — O Retrato de um artista quando jovem, James Joyce.
Por onde andam as imagens intangíveis e esfíngicas que ruminavam os poucos sendeiros das minhas antigas jovens estultícias?
Ode à obra humana do saber!
Quereis aparecer novamente para restaurar um desgraçado espírito destituído de toda e qualquer arte e sensibilidade?
Não mais posso conceber qualquer coisa que não os meus próprios tenebrosos vícios citadinos
Agraciações com manifestações usuais escassas e pobres que não me rendem uma gota de satisfação!
Estranhas vertigens de ululantes desejos não me preenchem mais o coração como antes
Meus perdidos tesouros mentais!
O ardor de antes foi subjugado de tal maneira que mesmo a ideia mais fresca causava-me angustiantes delírios de séculos de duração
Ah! A desgraça sentia-se em casa, a força poética fenecia
Muita opacidade, poucas trevas e pequenas coisas que não estavam claras
Fraco coração não pulsava como antes
“No particular está contido o universal” disse, certa feita, meu deus
Como podia ser? Uma maldição? Meus sonhos nunca eternizados?
Prosaísmo infernal!
No meu infernal particular, guardava apenas o particular
Aquele universal desconhecido, indecifrável, outorgado como castigo longe da minha vã sabedoria!
Mesmas conversas, mesmos assuntos
Celérica vida interior condenada a um deserto de nadas!
Inspiração ardilosa que inspirava-me a desinspirar-me
Minhas ocas ideias me escapavam pelos meus cantarolares
Por quais searas andava a complexidade humana?
Coletava bestas evidências e as reproduzia com maestria
Me retransformava a cada segundo em uma aberração formada por todas as falas que já me foram confiadas
Pífia condição! Lágrimas contadas em medíocres designificações
Da próxima vez, vou me verificar de imprimir impecavelmente as imagens com as quais cruzo abaixo da superfície da minha mente
Dá-me a força para transcender o mundano e descansar em paz!
Em tal estado de derradeiro desespero, eu me chamo à memória aquela tarde longínqua na qual um estranho azul se revelou ao meu olhar
Nada posso contar sobre esse estranho azul que lhe faça jus à verdadeira natureza
Seu cerúleo tom cristalizou-se na minha mente como a indefinição vaga de uma memória solta e perdida, cuja a origem, esquecida pelo tempo, remanescia como um reconfortante mistério interior
Nesse estado de paralisia, sem qualquer desprezível devotamento alheio de dar ao meu estilo aquele encanto que fascina a impaciência vulgar
Borbulhava, a miríades de léguas da superfície,
Meandros, que resistiam às camadas de desditas e enlevos
Sem mais retórica ou historinhas
Como se minha vida fosse contada como um mito
E, finalmente, então, descobria onde a minha aventura me levara
A uma vida de lembranças
Daquele azul que eu uma vez conheci.
O "estranho azul" que aparece ao final é um símbolo de esperança, de algo perdido, mas ainda vagamente lembrado. Representa um resquício de beleza e profundidade que, embora inalcançável no presente, permanece como uma memória reconfortante. O texto transita entre o lirismo e a prosa, evocando uma atmosfera densa, quase onírica, na qual o autor confronta sua própria finitude e a falta de significado.
A crítica ao "prosaísmo perturbador" aponta para a rejeição de uma vida meramente prática e rotineira, em contraste com a ânsia por uma conexão mais profunda com o universal. Ao final, a lembrança do azul encapsula o desejo de transcendência e o anseio por reencontrar aquilo que está além do mundano, um mistério interior que ainda…