Eleições Municipais de 2024 e o Circo da Polarização
- Maria Júlia Moreira
- 25 de set. de 2024
- 3 min de leitura
Com agressões em debates, o cenário eleitoral reflete a crescente tensão política no Brasil.

Maria Júlia Moreira
As eleições municipais de 2024 no Brasil têm revelado um cenário político altamente fragmentado, com uma disputa acirrada entre a direita, a esquerda e o centro em várias regiões do país. Com o primeiro turno se aproximando, as expectativas sobre os rumos do Brasil nas próximas gestões municipais são intensas, refletindo o clima de polarização que tem caracterizado o debate político nacional nos últimos anos.
A direita, especialmente os partidos alinhados ao bolsonarismo, tem buscado consolidar seu espaço nas eleições municipais, com o Partido Liberal (PL) assumindo a liderança em várias capitais. O apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro ainda desempenha um papel relevante, sobretudo em cidades onde a agenda conservadora tem apelo popular, como nas regiões Sul e Centro-Oeste.
No entanto, o desafio para os candidatos de direita reside na necessidade de traduzir o capital político nacional em soluções locais. A gestão de serviços públicos municipais, como saúde, educação e transporte, demanda propostas pragmáticas, que muitas vezes fogem da retórica ideológica predominante nos discursos conservadores.
Além disso, a alta rejeição de alguns candidatos que representam o bolsonarismo, como o ex-diretor da Polícia Federal Alexandre Ramagem no Rio de Janeiro, sugere que a direita precisará encontrar um equilíbrio entre o discurso duro contra a esquerda e a apresentação de soluções concretas para problemas locais.
Para o campo progressista, o desafio é ainda maior. Embora o Partido dos Trabalhadores (PT) e o PSOL estejam tecnicamente empatados na liderança de várias capitais, como São Paulo e Porto Alegre, ambos enfrentam índices de rejeição elevados, fruto de uma combinação entre o desgaste diante do eleitorado e a campanha de desinformação e fake news. O antipetismo, que cresceu nos últimos anos, permanece um obstáculo que candidatos progressistas precisarão superar.
A esquerda, no entanto, mantém um foco nas pautas sociais e na inclusão de minorias. Candidatos como Guilherme Boulos (PSOL) e Maria do Rosário (PT), nas capitais paulista e gaúcha, têm colocado questões como habitação popular, direitos das minorias e proteção ambiental no centro de seus programas. No entanto, esses temas continuam polarizando os eleitores e enfrentando resistência entre os setores mais conservadores da sociedade.
A esquerda também precisa reconquistar a classe trabalhadora e as periferias urbanas, grupos que foram, em parte, atraídos pelo discurso conservador nos últimos anos. A capacidade de reverter a alta rejeição e expandir sua base será determinante para as chances de vitória nas eleições de 2024.
Já o centro político, representado por partidos como MDB, PSD e União Brasil, continua a ser um ator relevante nas eleições municipais, liderando em várias capitais. Esses partidos, muitas vezes associados ao "centrão" no plano nacional, beneficiam-se da flexibilidade ideológica e da capacidade de articulação política. Os candidatos de centro, como Sebastião Melo (MDB) em Porto Alegre, têm focado em uma agenda pragmática, que evita posicionamentos extremos.
No entanto, a principal crítica ao centro é justamente a falta de clareza ideológica, o que muitas vezes leva à percepção de que suas campanhas carecem de identidade própria. A capacidade de oferecer uma visão de longo prazo para as cidades, baseada em propostas concretas e não apenas na busca por governabilidade, será essencial para que esse campo político mantenha sua relevância.
As eleições municipais de 2024 no Brasil prometem ser um importante termômetro para o cenário político nacional. Com a direita buscando consolidar sua influência, a esquerda tentando driblar a rejeição e o centro apostando em pragmatismo, o país se prepara para uma nova fase na gestão das cidades, que terá impactos diretos na vida de toda a população.
Independentemente de quem vença, é notório que os nervos estão à flor da pele. No último domingo (15), o candidato à prefeitura de São Paulo, Datena, deu uma “cadeirada” em Marçal, durante um debate político promovido pela TV Cultura, o que resultou em ferimentos no ex-coach. O acontecimento evidencia que o debate político no Brasil, em vez de focar nas questões essenciais que afetam a população, tem sido cada vez mais marcado por ofensas pessoais e atos de agressão, tornando-se um verdadeiro circo.
A política, que deveria ser um espaço para a troca de ideias e propostas construtivas, vem sendo um palco de brigas e provocações, refletindo a polarização e o desgaste emocional que permeiam o cenário eleitoral. Esse episódio, além de ser um exemplo da falta de respeito entre os candidatos, desvia a atenção do que realmente importa: a discussão de soluções para os problemas da cidade e o bem-estar da população.
As opiniões expressas neste artigo são de exclusiva responsabilidade do(a) autor(a) e não representam, necessariamente, a posição da Gazeta Arcadas sobre o tema. Somos um veículo plural, composto por pessoas com diferentes perspectivas políticas, e prezamos pelo respeito à diversidade e à democracia.
Texto revisado e editado por Ricardo Bianco.




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