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O Novo Paradigma da Política Americana

  • Eduardo Moreira Franco
  • 19 de nov. de 2024
  • 4 min de leitura

Em uma corrida eleitoral que parecia acirrada, Donald Trump voltou à presidência dos Estados Unidos, legitimado pelo voto popular. Apoiado pelo fortalecimento do conservadorismo americano, Trump redesenha o cenário político para as próximas eleições.



Presidente eleito americano, Donald Trump, jogando para cima uma moeda.
Ilustração: Vinicius Demarzo

Eduardo Moreira Franco


Cada eleição americana é descrita como a mais decisiva da história. Em 2024, essa narrativa se repete. Na última semana, o ex-presidente Donald Trump derrotou a atual vice-presidente democrata, Kamala Harris. Em uma disputa que parecia acirrada, Trump retornou à Casa Branca com quatro anos de experiência presidencial, o controle firme do Partido Republicano e um expressivo resultado eleitoral. 


As campanhas e visões de país apresentadas por ambos os candidatos eram completamente antagônicas, mas de certa forma previsíveis. Harris adotou uma estratégia semelhante à de Hillary Clinton em 2016, quando concorreu contra Trump. A campanha democrata se baseou em um pilar claro: a defesa da liberdade. Assim, a proteção do direito ao aborto foi um ponto amplamente abordado, em oposição ao conservadorismo republicano nesse aspecto. A defesa da democracia também foi central, contrastando com o ataque ao Capitólio em 2021, a contestação das eleições de 2020 e o “Project 2025”.


Mas se Hillary Clinton perdeu para Trump com críticas semelhantes às de Harris, por que repetir essa estratégia? A leitura do Partido Democrata é que o país mudou desde 2016. A tese, que remonta à presidência de Obama, sustenta que as gerações mais jovens estão se tornando cada vez mais progressistas e que os democratas ganhariam mais espaço entre minorias, como “working-class” negros e latinos. 


 Embora o diagnóstico parecesse correto com o desempenho melhor que esperado dos democratas nas midterms de 2022, ele se mostrou equivocado no contexto da disputa presidencial deste ano. Os Estados Unidos revelam-se um país mais conservador, o que reforça o poder do movimento político liderado por Trump. O próprio presidente reconheceu essa realidade em seu discurso de vitória, no qual rotulou sua eleição como "a maior reviravolta política da história". 


Mudança de votação entre democratas e republicanos entre as eleições presidenciais de 2020 e 2024.
Imagem: Financial Times

Trump conquistou avanços entre eleitores latinos e negros, invadiu redutos democratas como Nova York e, acima de tudo, solidificou sua base. Entre os grupos que mais chamam a atenção, homens de 18 a 29 anos foram os que mais aderiram à narrativa republicana, um público que antes se inclinava em média aos democratas, conforme aponta o Wall Street Journal.


Diferença de votação entre democratas e republicanos por gênero.
Imagem: Wall Street Jorunal

As raízes desse fenômeno são claras. O discurso democrata tem pouco apelo para o homem jovem, que tende a se importar pouco com o progressismo das pautas de gênero promovidas pela campanha democrata. A estratégia republicana, por outro lado, soube capitalizar em cima de pautas caras a esse eleitorado. Trump conquistou espaço ao se associar a temas amplamente consumidos por homens, como esportes de luta e criptomoedas, além de fazer aparições em podcasts com um público majoritariamente masculino, como o de Joe Rogan.


Outro personagem que contribuiu para essa narrativa foi Elon Musk. O bilionário sul-africano é amplamente conhecido por sua abordagem tecnológica disruptiva, desde sua trajetória com o PayPal até a Tesla, além de seu papel no setor aeroespacial com a SpaceX. Na corrida pela Casa Branca, Musk tornou-se um símbolo para o jovem americano interessado em um universo masculino e conservador, e seu apoio a Trump foi um ponto-chave da campanha.


Mas se o americano é mais conservador do que em 2016, como Biden venceu Trump em 2020? Provavelmente pelo mesmo motivo que levou Trump à vitória em 2024: a direção da economia.


Em 2020, os americanos ainda sentiam os impactos negativos da pandemia. Mesmo com estímulos fiscais, o consumo das famílias era limitado pelo isolamento social. Biden trouxe uma mensagem de reconstrução econômica por meio de amplos planos de investimentos em infraestrutura e transferência de renda, posicionando o Estado como um salva-vidas.


Nos últimos quatro anos, Biden conseguiu recuperar a economia americana, mas a um custo alto: a inflação. Nas eleições de 2024, o aumento no custo de vida experimentado durante o mandato de Biden pesou contra o Partido Democrata. Embora Harris tenha feito uma campanha pouco associada à sua posição como vice-presidente de Biden, a ligação foi inevitável, o que prejudicou sua candidatura.


Trump também soube capitalizar essa falha na campanha adversária. Em seu primeiro mandato, ele focou em priorizar o produtor, o empresário e o empreendedor americanos, fortalecendo a economia interna dos Estados Unidos. Desta vez, essa narrativa voltou com ainda mais força, com Trump reforçando suas tarifas sobre importações e defendendo políticas migratórias rígidas para valorizar o trabalhador americano.


Todo esse contexto possibilitou uma vitória de Trump, não apenas em todos os estados-pêndulo, mas também no voto popular, no qual havia terminado atrás em 2016 e 2020. Com isso, o movimento trumpista tornou-se majoritário, estabelecendo um novo paradigma na política americana.


Assim, oficialmente entramos em uma Era Trump. Nos últimos oito anos, dentro ou fora do Salão Oval, sua figura permaneceu central na política americana. Nos próximos quatro anos, Trump retorna à Casa Branca mais forte, com maior controle sobre o Partido Republicano e mais poder para consolidar seu legado político nas próximas eleições.


As opiniões expressas neste artigo são de exclusiva responsabilidade do(a) autor(a) e não representam, necessariamente, a posição da Gazeta Arcadas sobre o tema. Somos um veículo plural, composto por pessoas com diferentes perspectivas políticas, e prezamos pelo respeito à diversidade e à democracia.


Texto revisado e editado por Ricardo Bianco.


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