Por Que as Nações Fracassam: entenda o best-seller escrito pelos vencedores do Nobel de Economia deste ano
- Ricardo Grandi Bianco
- 15 de out. de 2024
- 4 min de leitura
Daron Acemoglu e James Robinson receberam o prêmio pelos estudos sobre o impacto do arranjo institucional na prosperidade dos países. No livro publicado em 2012, os autores traduziram suas descobertas para o público leigo.

Ricardo Grandi Bianco
Nesta segunda-feira (14), Daron Acemoglu, James Robinson e Simon Johnson foram agraciados com o Prêmio Nobel de Economia por seus estudos sobre como as instituições de um país determinam seu grau de prosperidade. Em seu aclamado livro Por Que as Nações Fracassam, Acemoglu e Robinson apresentam essas descobertas de forma acessível ao público, elucidando por que algumas nações enriquecem, enquanto outras permanecem atoladas na pobreza.
O livro se inicia com um exemplo simples, mas impactante: a pequena cidade de Nogales, dividida entre os Estados Unidos e o México. Enquanto a metade americana de Nogales desfruta de altos padrões de vida e acesso a serviços públicos de qualidade, do lado mexicano, a realidade é outra, com baixa renda, serviços precários e insegurança. A pergunta central do livro surge a partir dessa diferença: por que, mesmo tão próximas geograficamente, as duas populações vivem realidades tão distintas?
A questão do desenvolvimento e da geração de riqueza intriga os estudiosos da Economia desde os seus primórdios. Com a publicação de A Riqueza das Nações, em 1776, Adam Smith, considerado pai da ciência econômica, deu início a um longo debate sobre as causas da prosperidade. Para alguns, ela estaria ligada a fatores geográficos; para outros, a aspectos culturais.
Para Acemoglu e Robinson, no entanto, nenhuma das duas explicações convence. O caso das Coreias é bastante ilustrativo: afinal, como é possível que a Coreia do Norte e a Coreia do Sul, mesmo com uma grande proximidade geográfica e uma herança cultural comum, vivam realidades econômicas diametralmente opostas?
Segundo os autores, a chave da resposta está nas instituições. Por um lado, as chamadas instituições extrativistas concentram riqueza e poder nas mãos de um grupo restrito da sociedade, às custas dos demais. Por outro, as instituições inclusivas promovem a participação das pessoas nas decisões políticas e econômicas, fornecendo oportunidades e incentivos para que elas desenvolvam suas habilidades e colham os benefícios desse processo.
Algumas nações falham porque ficam presas em um ciclo vicioso de extrativismo. Outras prosperam, pois conseguem quebrar esse ciclo, criando um ambiente inclusivo, onde o crescimento se torna duradouro e sustentável ao longo do tempo.
Mas se o processo descrito pelos autores não aparenta ser tão complexo, por que os países não escolhem simplesmente adotar instituições inclusivas? Acontece que o surgimento desse ambiente institucional benéfico não é mera questão de escolha. Frequentemente, as elites que se beneficiam de arranjos extrativistas utilizam seu poder para mantê-los.
Isso porque um dos processos essenciais para o crescimento econômico é a chamada destruição criativa. Segundo o conceito, descrito pelo economista Joseph Schumpeter, essa destruição ocorre quando novos setores de mercado e empresas inovadoras passam a atrair mais recursos, retirando-os dos agentes já estabelecidos.
Embora tenha um saldo positivo do ponto de vista coletivo, esse fenômeno gera alguns perdedores - muitas vezes, detentores de um vasto poder político. Isso incentiva que eles trabalhem para minar a destruição criativa.
Assim, o nascimento de instituições inclusivas é um processo árduo, que ocorre de forma particular em cada sociedade, geralmente durante momentos críticos na história, como guerras, revoluções ou epidemias. Além disso, pequenas diferenças prévias podem gerar grandes disparidades futuras.
É o caso da Europa Ocidental e Oriental após a Peste Negra. Nações que conseguiram sair do feudalismo na porção ocidental do continente após a catástrofe sanitária acabaram atingindo um grau de riqueza superior ao das nações do Leste, que permaneceram em um ciclo de exploração. Não à toa, a Revolução Industrial ocorreu primeiro naquelas, chegando nestas com atraso.
A boa notícia é que, uma vez estabelecidas, as instituições inclusivas tendem a se retroalimentar, protegendo-se de retrocessos. Dessa forma, cria-se um ciclo virtuoso de crescimento e prosperidade.
É o que ocorreu nos EUA na segunda metade do século XIX, especialmente após a Guerra da Secessão. O fim da escravidão, a aprovação do Homestead Act em 1862, que concedeu terras para pequenos proprietários, e do Sherman Act em 1890, que regulou a concorrência e limitou os abusos de poder econômico das grandes corporações, são bons exemplos dessa dinâmica virtuosa.
Contudo, há também circunstâncias nas quais as boas instituições não resistem a tentativas de sabotagem, como no caso da República de Veneza. Possivelmente, o local mais rico do mundo durante a Idade Média, Veneza passou por retrocessos institucionais no século XIV e, a partir de então, viu sua prosperidade minguar. Algo semelhante aconteceu com a Argentina no século XX.
Apesar da didática invejável e da base teórica sólida, o livro não sai ileso de críticas. Alguns apontam que a obra falha em aprofundar a definição de "instituições inclusivas" e "extrativistas". Falta também uma formulação mais detalhada sobre como implementar políticas públicas que favoreçam o florescimento das primeiras.
Outra crítica comum está ligada à falta de uma capacidade preditiva na obra. Exemplo disso é a análise otimista dos autores sobre o Brasil. Embora o país tenha, de fato, vivido avanços importantes durante os anos 1990 e 2000, o prospecto positivo mostrou-se lamentavelmente equivocado, considerando os rumos da nação a partir de 2013.
Apesar das limitações, Por Que as Nações Fracassam não se tornou um best-seller à toa, tampouco seus autores ganharam o Nobel de Economia por acaso. O livro é baseado em rigorosa pesquisa e, embora não ofereça soluções fáceis, tem muito a agregar na compreensão sobre as raízes da prosperidade e da desigualdade entre as nações. Sua leitura é indispensável a qualquer um interessado no debate sobre desenvolvimento econômico e justiça social.
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